Eu estava
na rodoviária, rumo a mais uma viagem para Coité. Para quem não
sabe, é a cidade onde vivi até os 17 anos e onde meus pais ainda
vivem hoje. Era mais uma ida, que consistia resumidamente numa
sequência de acordar cedo e com sono, chegar na rodoviária, comprar
passagens, esperar o ônibus,, ligar o mp3, dormir na segunda música,
ficar entre um sono e uma vigília zonza e chegar em Coité –
sempre com uma dor de cabeça. Dentre todas as etapas eu havia
acabado de comprar as passagens. Faltava ainda um tempo, talvez meia
hora, para o ônibus chegar, então resolvi passar no supermercado
que tem lá mesmo para comprar alguma comida.
Já na
fila, com alguma barra de cereal na mão – provavelmente -, tive
uma surpresa ao ver um cara alto, com o rosto meio ossudo, com
pulseiras imensas e roupas diferentes (roupa de gringo viajante). Não
posso ter certeza absoluta da fisionomia do cara, mas é assim que
minha memória guardou para si. Porém, o mais importante mesmo era o
que ele tinha carregando consigo, além de uma mochilona. Era um case
de um instrumento, certamente de cordas, mas com o corpo arredondado.
Eu só pude pensar “Será um bouzouki?”. Fiquei ali por vários
minutos fitando o instrumento, tentando desvendá-lo através de uma
visão raio-x que me fizesse comprovar o que era por dentro do case.
O cara foi atendido. Havia comprado um saco de pães e lembro que não
havia conseguido colocar na mochila, até que resolveu amassar bem
todos e, ainda assim, colocar com um certo esforço. Ele saiu do
supermercado. Eu ainda estava na fila e, claro, pensando no
instrumento.
Acho que conheci o Bouzouki através do Planxty, tenho quase certeza. Era meio mágico para mim, aquele som meio misterioso: não era violão de 12 cordas, nem bandolim, nem viola... mas tinha um timbre que me levava a pensar nesses instrumentos. Desde então sempre quis ouvir um bouzouki pessoalmente, e quem sabe tocar!
Acho que conheci o Bouzouki através do Planxty, tenho quase certeza. Era meio mágico para mim, aquele som meio misterioso: não era violão de 12 cordas, nem bandolim, nem viola... mas tinha um timbre que me levava a pensar nesses instrumentos. Desde então sempre quis ouvir um bouzouki pessoalmente, e quem sabe tocar!
Ao pagar minhas comidas fui andando em direção ao terminal do meu
ônibus. E vi logo à minha frente o cara e seu case misterioso. Não
poderia mais perder uma chance e falei com ele. “Fala português?”,
ele compreendeu o que eu disse, mas percebi que não falava muito
bem. Era francês. Perguntei se falava inglês, e ele disse que sim.
Falei no meu inglês style, “Que instrumento é esse?” ('Wati
instrumenti is dat?' - Não me importo tanto se meu inglês é
perfeito em todas as frases, ou se as vezes troco a ordem das
palavras – mestre Yoda -, em certos contexto o que importa é que o
outro vá catando uma palavra aqui, outra ali, e entenda o que quis
dizer mesmo hahahaha – já tive muita conversa filosófica com
gente estrangeira assim e deu certo hahaha), “Bouzouki” -
respondeu. E para a minha surpresa foi tirando o instrumento do case.
Era um modelo grego, belíssimo! Com todos aqueles arranjos mágico
que só o bouzouki grego tem. Fiquei maravilhado ao ver o primeiro
bouzouki da minha vida, pessoalmente. Falei qualquer coisa como “Hmm,
to play irish music.. like a big mandolin!” (“Ahh, para tocar
música irlandesa.. como um grande bandolim!”). Ele confirmou e foi
colocando o bouzouki no case novamente e foi uma pena não ter tocado
nada. Me disse também que tocava flauta e sax. Eu também falei
qualquer coisa que não durou muito e dei tchau (“Ok man! We had a
great conversation here, oh my god! Hahaha, amazing, man! Very
fucking nice, i have to go now! See you on the next, guy! Be
careful, Brazil is full of gangsters! Hahaha
Ok man, bye” - para quem não entende
minhas piadas: eu não falei isso). Sai pensando no bouzouki e
durante alguns segundos me veio uma pensamento típico de guri que
deseja algo que acabou de ver: imaginei o cara me chamando e falando
que o instrumento estava lhe atrapalhando viajar, por ser muito peso
e incomodo levar, perguntando se eu não queria ficar com ele e que
podia comprar outro quando voltasse para a França. Enfim.. desisti
do pensamento, mas não deixei de me divertir em crer vagamente que
isso poderia acontecer – e levando um pouco a sério. Lá vinha meu
ônibus e tão logo eu estava dormindo com o mp3 ligado, confirmando
a seguinte etapa.
Demorou
mais ou menos uns três anos para que eu pudesse tocar em um e depois
mais alguns meses para que eu pudesse ter não somente um, mas dois belos bouzoukis. Duas felicidades na minha vida!
Saiba que cada bouzouki espera por seu dono, seu buzukista! Tokaê, man!
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