DADGAD
Quando eu descobri a afinação DADGAD, através de um livro/cd de Franco Morone (um ótimo violonista e interprete da música irlandesa), fiquei muito animado com as novas possibilidades que tal afinação deixaria em jogo.
(Uma mudança na afinação, que seja até mesmo de uma só corda, no programa de compor (finale, guitar pro..), no instrumento, etc etc.. ou seja, uma mudança na plataforma que abrange os níveis de composição/execução, por menores que sejam, abrem uma gama incrível de possibilidades novas de sonoridades e inspirações! E é por isso que considero importante explorar outros meios aos quais não estamos acostumados a compor).
Aos poucos fui me familiarizando com o DADGAD, até que chegou ao ponto de eu me animar para criar umas coisas nela. Há uma vantagem incrível nesta afinação, pois você tem uma sonoridade bastante aberta, o que facilita, por exemplo, um auto acompanhamento da melodia que você faz - claro, aplicando-se a um determinado tipo de música (por exemplo: a que eu faço). Algo que me incomodou é que o G é a única nota "estranha" à tríade que é definida pela afinação, no caso D. Então resolvi afinar o sol para fá#. Virou um DADF#AD, um D maior (tocando todas as cordas soltas). Gostei muito das sonoridades que tal afinação possibilitou, e uso ela para fazer os acompanhamentos na música irlandesa, pois para mim fica fácil realizar pequenos contrapontos sem me preocupar em fechar acordes certinhos, já que tem muita música em D (e quando é em G, A, Em, só usar capotraste, com as mesmas digitações).
Então, a primeira música que eu fiz usando DADF#AD foi "Os dente".
Os dente - como saiu!
Passei um tempo muito interessado na música nordestina, na verdade com muita vontade de fazer algo soar assim e essa afinação foi essencial para este momento de inspiração (que na verdade dura até hoje), pois é muito fácil fazer uma melodia nela realizando algo característico dessa música: um pedal numa nota fazendo um 'chão' para os pontilhados nas primeiras cordas. Ótimo!
Não me recordo exatamente como o "tema" dessa música saiu dos meus dedos, mas sei que me utilizo do LídioMixolidio e que gosto muito de como ficou. Soa como algo que 'sai mas não sai' do lugar. Fiquei durante uns bons meses somente com a primeira parte da música feita (até 2:32) e sem pretensões de grava-la ainda.
No dia que eu resolvi gravar achei que faltava mais nela, que só até onde estava ainda não era 100%. Por isso, algumas horas antes, criei todo o resto. Eu gosto disso, porque a coisa é meio instantânea, meio na aventura e adrenalina na hora de gravar, não dá tempo de você pensar pelos dias se é melhor mudar, ou pensar em outro arranjo. Aliás, 90% dos meus arranjos são feitos na hora - pois eu que gravo todos os instrumentos, mas na hora de compor é só em um, o resto vou meio que bolando na gravação (ultimamente venho vendo uma certa desvantagem nisso também).
As flautas
Fiz essa música toda no violão e não fazia idéia de como seriam os outros instrumentos. Eu gostei muito do processo de gravação dessa música, pois foi uma surpresa para mim em todo seu decorrer. Quando gravei o violão, coloquei a percussão - e até aí tudo como imaginado. Eu fiquei ouvindo e achei sem graça, pois faltava algo a mais, dava a impressão de que o violão era plano pra algo em cima. Isso é um perigo para qualquer artista: quando ele percebe que o quê o animava minutos atrás não era lá estas coisas, que o resultado não saiu como o esperado! Resolvi pegar uma flauta e ir testando umas coisinhas e vi que funcionou. Eu gravei esta melodia na flauta praticamente no improviso. Dei o REC e fui soprando. Gravei outra para fazer a relação harmônica entre as duas e pronto. É possível ouvir alguns erros nos detalhes delas, mas não ligo pra isso.
As vozes
Ouvindo a segunda parte dela (depois de 2:32) pensei em experimentar com as vozes.. Inicialmente me veio um som de muita gente conversando, com os instrumentos de fundo, algo como uma feira.. mas me soou óbvio demais com a temática sonora da música. O que eu fiz? Dá o REC que o que sair na hora vai se definindo! Usei uma voz para cantar a melodia com "´oóoóôóó" que acompanha a flauta, mas ainda achei seco. E foi aí que me veio uma grande inspiração! Bem curioso com a forma de lidar com as vozes que os ciganos de certas regiões costumam fazer (por exemplo, o excelente grupo da Hungria Kalyi Jag, que conheci através do blog do grande Tiago - junto com toda a música cigana que conheço) resolvi fazer algo parecido também para contrapor a esta melodia. São os "I Êi Êi Êiita êi" e acho que se encaixaram muito bem!
Na hora de cantar a letra não me preocupei com harmônias nas vozes, simplesmente imaginei pessoas cantando e foi o que fiz.
Ah! No final de tudo pedi que meu amigo Ramon gravasse o início como se fosse alguém testemunhando sobre a queda da mulher.
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Enfim, fiquei muito surpreso com o resultado final da música e gostei mais que pensei que ia gostar. Está aí para vocês ouvirem e, claro, darem suas opiniões.
Os dente by eterno1sonho
"Ressuscita-me. Ainda Que mais não seja. Porque sou poeta. E ansiava o futuro. Ressuscita-me. Lutando Contra as misérias. Do cotidiano. Ressuscita-me por isso...
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